A MISÉRIA
Hoje, são pessoas cabisbaixas, de olhar melancólico, num espelho não reflectido transmitindo-nos o desespero e a inconformidade do que nas suas almas percorre, absortas em pensamentos longínquos, escuros, trémulos.
Trazem roupas sem esplendor, sem outras marcas do que as do excesso do seu odor, do lixo onde dormem. São roupas tão poídas e amargas como as suas vidas. A fome marca-lhes o rosto e a alma. A almofada da vida que não vivem mas que apenas atravessam é feita somente de tristeza e de solidão. Como amigo têm o contentor do lixo e como amparo as mantas de papelão.
Cruzamo-las todos os dias, denegrindo a paisagem nos jardins, assustando os transeuntes. São os mendigos!
Mas é por entre a miséria que se encontram os seres mais astutos: grande e genuína tradição portuguesa é a Miséria.
Autores: Joel Ferreira, Tiago Gil
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